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Mafra: Macaca em depressão após ter sido retirada ao dono
(Por Isaltina Padrão. In DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 25 de Novembro de 2009, http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1429570&seccao=Centro)
 
Empresário, de 54 anos, comprou animal em Moçambique e manteve-o numa jaula. A GNR detectou a situação e o dono terá  de  pagar multa entre 20 e 30 mil euros
 
Há 14 anos, Carlos (chamemos-lhe assim) foi passar férias a Moçambique e de lá trouxe companhia: uma macaca bebé que, durante todo este tempo manteve em cativeiro numa casa na Venda do Pinheiro, no concelho de Mafra. O feito, que mais não é do que posse ilegal de animais, vai valer a este homem de 54 anos e empresário na área da publicidade uma multa que oscilará entre os 20 e os 30 mil euros, bem como o desgosto da separação da sua macaca de estimação, que, neste momento, mora já no Jardim Zoológico de Lisboa. Mas está infeliz.
 
Uma separação que terá causado danos (monetários, mas sobretudo emocionais) não só ao dono do animal, como ao próprio. Segundo fonte oficial do Jardim Zoológico, "o primata apreendido pela GNR encontra-se de quarentena" e ao que o DN apurou, a mudança de ambiente deixou a macaca, que terá hoje cerca de 15 anos, em estado depressivo.
 
De acordo com a presidente da Associação Animal, Rita Silva, "é perfeitamente normal que esteja deprimida". E justifica: "Estamos a falar de um ser [espécime Saguinus] altamente sociável e, independentemente das más condições em que poderia estar a viver, desenvolveu laços afectivos com aqueles com quem se relacionou durante anos. Essa era a única vida que a macaca conhecia e, de repente, foi desmoronada".
 
Para a Animal, situações como esta têm de ser alteradas sim, mas de forma gradual de maneira a não se ressentirem no bem-estar das espécies. Rita Silva diz ter sido por isso que a associação, alertada para esta situação de cativeiro há cerca de meio ano, ainda não tomou uma medida drástica. "Antes de fazer o resgate, nós estávamos a tentar encontrar uma situação de santuário para a macaca", explicou esta responsável, adiantando que por santuário entende-se "um local que abriga, para o resto da vida, animais que viviam de forma anti-natural e tenta recriar o seu habitat". Algo que, frisa, não "acontece no jardim zoológico e razão pela qual discordamos da decisão de transferir a macaca para lá".
 
Mas foi este o destino decidido pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, após a macaca ter sido retirada do cativeiro. O DN tentou contactar esta entidade, mas, até à hora de fecho desta edição, tal não foi possível.
 
Era numa jaula, nas proximidades de casa que Carlos mantinha a macaca que comprou com apenas um ano. O fim do cativeiro/infracção (ver caixa) que durou 14 anos ocorreu pelas 10.30 de segunda-feira, quando o Destacamento Territorial de Mafra da GNR, através do seu Núcleo de Protecção Ambiental detectou a macaca. "Temos feito a recolha de muitas informações, nomeadamente de notícias publicadas, que nos conduziram até este animal", disse ao DN, fonte da GNR, apelando às pessoas que conhecerem situações semelhantes a denúncia das mesmas. Tal pode ser feito através da linha SOS Ambiente e Território, cujo número de telefone é: 808200520 (grátis).
 
A Associação Animal também defende o resgate, mas nunca da forma "brutal" como este foi feito. 

 

 

Motivação constante para fazer mais e melhor
[Miguel Moutinho, dirigente da ANIMAL, em entrevista à ANDA –
Agência de Notícias dos Direitos dos Animais, do Brasil]
(In ANDA, 20 de Novembro de 2009, http://www.anda.jor.br/?p=32925)
 
Com formação em Filosofia, Miguel Moutinho é ativista dos direitos animais e vegano desde 1998. Entre outros projetos em defesa dos animais que fundou e coordenou, está o Centro de Ética e Direito dos Animais. Desde 2002, ele é dirigente da ANIMAL, uma organização fundada em 1994, que completa este ano 15 anos de existência a serviço dos animais de Portugal, e que é, atualmente, uma das mais ativas organizações de direitos animais da Europa. Nesta entrevista concedida com exclusividade à ANDA, Miguel Moutinho fala sobre o trabalho da ONG que dirige, analisa a relação da sociedade com os animais e apresenta sua visão sobre as correntes no movimento de defesa animal. Confira!
 
ANDA – Como analisa o estado do respeito pelos animais em Portugal, da defesa e da proteção destes?
 
Miguel – Ao longo dos últimos anos, a sociedade portuguesa evoluiu bastante no que diz respeito ao seu grau de consciência acerca das características dos animais, das suas necessidades, e acerca dos muitos problemas que os afetam. O chamado public awareness, ou seja, a consciência pública e do cidadão comum acerca dos direitos dos animais e das violações destes – no caso, em Portugal – evoluíram imenso, fruto de um intenso trabalho de campanha, de alerta e de informação e sensibilização que tem sido feito, nomeadamente pela ANIMAL. Claro que, por outro lado, as muitas injustiças e atrocidades que são cometidas contra os animais passaram a ser mais conhecidas, mais identificadas e mais discutidas, pelo que se pode ter a percepção de que haverá hoje mais problemas que afetam os animais em Portugal do que havia no passado. Contudo, sendo embora verdade que os problemas não diminuíram, eu diria que, ainda assim, não há mais problemas – há apenas a manutenção dos muitos que sempre houve e há uma maior consciência desses mesmos problemas e da sua intensidade. Não deixa, porém, de ser verdade que o Estado Português, sobretudo por omissão de uma ação pedagógica, legislativa e inspectiva, preventiva e punitiva, no sentido de proteger os animais do país, tem permitido que haja uma quase total impunidade em relação a quem comete qualquer forma de abuso contra animais, seja em que contexto for, embora isso se note mais quando as vítimas são os chamados “animais de companhia”, principalmente os cães e os gatos, que são aqueles que estão mais próximos das pessoas e por quem estas nutrem uma especial empatia e simpatia. Essa mesma impunidade e os problemas que estão na sua base e que dela são efeito registam-se, no entanto, também fora desta área, que é mais popular, mas, justamente por isso, são menos notados, embora também haja um crescendo de consciência e preocupação dos cidadãos em relação a esses animais e a estas questões. Este é o quadro geral. Em termos mais concretos, notam-se sinais específicos muito positivos: muitas pessoas começam a compreender, muitas vezes intuitivamente, até, o erro da expressão “donos”; nos dois últimos anos, sobretudo, passou a ser reconhecida como uma questão muito importante o lamentável fato de os animais serem juridicamente categorizados como “coisas”; também nos últimos anos a repulsa social pelos atos de crueldade contra animais mais públicos, mais evidentes e mais imediatamente perceptíveis como errados, como é o caso das touradas, dos circos com animais e dos rodeios, cresceu e ganhou expressão política; além disso, nos últimos anos tem havido cada vez menos caçadores ativos, embora haja ainda muita caça, infelizmente. A experimentação animal passou também a ser uma questão que merece atenção, além de haver um fenômeno crescente de adesão ao vegetarianismo e ao veganismo, com restaurantes vegetarianos a abrirem portas (e a manterem-se em atividade e bem-sucedidos) por todo o país, sobretudo nos meios mais urbanos mas já com alguma expressão também no interior do país, ao mesmo tempo que, desde as mercearias pequenas aos hipermercados, a oferta de produtos para vegetarianos e veganos tem crescido tremendamente. Há cada vez mais associações e grupos informais de proteção dos animais a atuar por todo o país, embora infelizmente ainda não de forma muito sofisticada e modernizada, mas é uma questão de tempo até que este meio se organize melhor, modernize e melhore as suas práticas e venha a fazer um trabalho melhor pelos animais. Considerando todos estes elementos, diria, pois, que a realidade portuguesa, apesar das suas muitas barreiras culturais de resistência aos direitos dos animais e apesar dos seus problemas muito próprios, também decorrentes do fato de Portugal ser um país periférico, está em progresso visível no que se refere à maneira como os animais são vistos e tratados, faltando principalmente que o Estado acompanhe, por meio de medidas políticas diversas e pela concretização prática destas, os avanços importantes que a sociedade portuguesa tem dado neste domínio.
 
ANDA – Que trabalho tem feito, nomeadamente por intermédio da ANIMAL, na defesa dos direitos dos animais em Portugal?
 
Miguel – Fundamentalmente, a ANIMAL tem feito um esforço hercúleo, ao longo dos seus já quinze anos de existência, e sobretudo nos últimos anos, para ser um autêntico motor de potenciação e realização de todos estes progressos. A ANIMAL tem sido a única organização do seu gênero a atuar em Portugal. A esmagadora maioria das organizações de proteção dos animais do país atua em nível local, exclusivamente ou quase exclusivamente na prestação de assistência e proteção a animais individuais, particularmente a cães e a gatos, lidando com os muitos dramas que os afetam, nomeadamente com o abandono, que acontece impunemente em Portugal ainda hoje. A ANIMAL tem procurado fazer o outro trabalho, igualmente importante, de despertar consciências, de informar as pessoas e de, com base nisso, tentar envolvê-las e à sociedade portuguesa neste processo de mudança sobre  o modo como os animais são e devem ser vistos e tratados. E claro que este trabalho tem envolvido um muito amplo trabalho jurídico, político e legislativo, assim como mediático. Como disse, as resistências são muitas, os problemas culturais e a hesitação em mudar hábitos e comportamentos, tornando-os mais éticos, são obstáculos que se têm apresentado – e que todas as organizações de direitos humanos, de direitos dos animais e ambientalistas conhecem, de forma mais ou menos intensa, em qualquer parte do mundo, e a escassez de recursos e de apoios também não tem ajudado. Tal deve-se também ao fato de a ANIMAL ser muito leal aos animais, pelo que, embora seja uma organização que se pauta pela racionalidade, pela razoabilidade, pela tomada de posição éticas em defesa dos animais com base na melhor informação disponível e em fatos objetivos – ou seja, tendo uma abordagem racional e não emocional à defesa dos direitos dos animais –, tem necessariamente que defender os direitos dos animais por completo, e não apenas “mais ou menos”, o que faz com que se torne uma organização menos atrativa, sob alguns pontos de vista, para receber apoios. É também uma organização que faz questão de ser totalmente independente, razão pela qual nunca recebeu nem nunca aceitaria receber qualquer apoio de qualquer organismo do Estado. Ora, com uma tão firme observação e defesa destes princípios, e tendo em consideração que a ANIMAL se distanciou inclusivamente de muitas organizações, como a WSPA, PETA, HSUS, RSPCA e CIWF, entre outras, pelo fato de estas defenderem e tomarem posições que a ANIMAL considera que não respeitam nem promovem os direitos dos animais, a existência de recursos e de parcerias para a realização deste trabalho torna-se um desafio ainda maior. Mas o que é verdade é que, embora com muito esforço e sacrifício, a ANIMAL tem estado dedicada, leal e determinadamente ao serviço dos animais de Portugal e apoiando, na medida do possível, quem se preocupa com eles.
 
ANDA – Acha que tem sido bem-sucedido?
 
Miguel – Apesar do muito que ainda há por fazer e apesar do muito que, com mais recursos humanos e financeiros, poderia ter sido feito, sim, considero que tem sido um trabalho bem sucedido. A ANIMAL tem tentado, ao longo dos anos, estar ao nível do melhor que se faz no mundo em termos de defesa dos direitos dos animais. Com uma estrutura muito pequena e com uma tremenda limitação de recursos diversos, a ANIMAL tem ainda assim conseguido fazer em Portugal um trabalho que, proporcionalmente, se pode equiparar ao trabalho de algumas das maiores, mais capacitadas, incluindo em termos de recursos, e mais dinâmicas e reconhecidas organizações de proteção dos animais da Europa e dos EUA. Claro que, para qualquer defensor dos direitos dos animais, tudo o que fazemos para que a justiça que é devida aos animais não-humanos seja concretizada é sempre pouco e não chega, sobretudo quando vemos sucessivas evidências de que o que está por fazer para instituir de fato os direitos dos animais e a proteção destes é uma tarefa monumental e assustadora, que se subdivide em milhares de trabalhos diversos e necessidades múltiplas que precisam de ser supridas. Não nos sentimos em paz nem satisfeitos, enquanto tantas injustiças e atrocidades são cometidas, e pensamos sempre que podemos e devemos fazer mais e melhor. Mas somos humanos, temos limitações diversas, num país difícil para os animais, e, tentando analisar o nosso trabalho e o impacto que tem tido para os animais e na sociedade portuguesa, no modo como esta se relaciona com os animais, entendo que é legítimo considerar que a ANIMAL tem sido bem sucedida no seu trabalho pelos animais em Portugal.
 
ANDA – E, de uma perspectiva mais global, como vê, nomeadamente num ângulo de comparação, a proteção dos animais na Europa, no Brasil e no Mundo?
 
Miguel – O Brasil, do mesmo modo que tem vindo a crescer social, econômica e politicamente, tem avançado imenso no que diz respeito à proteção dos animais. Em muitos sentidos, e embora dependendo da cidade ou do estado de que estejamos a falar, o Brasil é mais avançado nesta área do que muitos países da União Europeia, incluindo Portugal. Quanto à Europa, é desigual, naturalmente. A União Europeia, por exemplo, é composta por 27 estados-membros com histórias e experiências sociais, culturais, políticas e económicas muito diferentes entre si. Por isso, também se notam essas diferenças na proteção dos animais. Para todos os efeitos, a União Europeia, enquanto legislador, tem definido mínimos, na área da proteção dos animais, que têm forçado mudanças importantes, sobretudo pelas implicações que têm nas mudanças de percepção e de hábitos dos seus povos em relação aos animais, em muitos dos seus estados-membros, mas está ainda hoje muito aquém do necessário e do esperado. A União Europeia tem que representar e materializar a modernização – incluindo do ponto de vista moral e político, nas matérias de importância moral, como é o caso dos direitos dos animais – e não deve ceder às resistências que favorecem arcaísmos sanguinários como as touradas, por exemplo. Presentemente, os 27 estados-membros da União Europeia toleram, indefensavelmente, a brutalidade cometida contra os animais nas touradas em apenas 3 estados-membros: Portugal, Espanha e França. Acredito que isso seja transitório e que será uma questão de tempo até que a UE tome posição contra isto, mas é mais natural e expectável que, entretanto, os sobressaltos cívicos que se têm registado em Portugal, em Espanha e em França contra as touradas levem a que esses estados as proíbam – há até já vários sinais que indicam que isso poderá estar perto de acontecer. A UE deveria também ter uma política central de proteção dos chamados “animais de companhia”, mas, até agora, tem-se auto-excluído dessa área. Neste contexto, tem crescido a solidariedade e o trabalho em rede entre organizações dos diversos estados-membros, coligadas formal ou informalmente, para lidar com problemas específicos, como a experimentação animal, a criação, exploração e morte de animais com fins alimentares, ou pelo seu pêlo, a manutenção e o uso de animais em estabelecimentos de entretenimento, etc., mas, a meu ver, o movimento europeu está ainda muito descoordenado e dividido, porque está a tentar adaptar-se à nova realidade quase-federativa da União Europeia, tentando lidar, ao mesmo tempo, com as violações dos direitos dos animais que ocorrem no seu espaço nacional, tendo que o ver também como espaço europeu, trabalho esse que essas organizações se vêem obrigadas a ter que fazer na esfera nacional e na esfera comunitária. É uma adaptação que espero e antecipo que se torne mais rápida e mais eficaz em breve, e que venha a permitir melhorar os seus resultados para os animais. Quanto aos EUA, têm, na minha opinião, as melhores estruturas de proteção dos animais no mundo. Os melhores santuários, para animais de espécies domésticas e selvagens, estão nos EUA, por exemplo. Mas, por ser um país muito heterogéneo, tem, dentro de si, gravíssimos problemas de difícil solução e, ao mesmo tempo, os melhores exemplos dos diferentes tipos de trabalho que há a fazer na defesa dos direitos dos animais. De resto, globalmente, apesar do holocausto animal ser ainda desesperantemente tremendo e avassalador, a verdade é que o mundo não pára de caminhar no sentido de respeitar e proteger cada vez mais os animais. Sintoma disso é, indubitavelmente, o fato de cada vez mais pessoas reconhecerem que não é legítimo alimentarem-se de animais ou aproveitarem-se, direta ou indiretamente, da sua exploração e violentação – o vegetarianismo e o veganismo são cada vez mais comuns e os apelos, das mais diversas fontes – até já da FAO, das Nações Unidas –, para que as pessoas adoptem dietas e hábitos de consumo livres de exploração de animais são cada vez maiores, mais repetidos e mais diversificados.
 
ANDA – Na discussão entre as diversas correntes da defesa dos animais, desde o bem-estarismo estritamente reformista ao abolicionismo puro, qual é a posição em que se encontra e que defende?
 
Miguel – Eu considero que é moralmente errado defender apenas a proteção do bem-estar relativo dos animais enquanto são explorados e até serem mortos, admitindo a exploração, o aprisionamento e/ou a morte deles. Não há uma única razão moral válida que possa sustentar essa injustiça. Por isso, defendo que não é legítimo defender a reforma da exploração animal e que temos, isso sim, o dever de defender e promover a abolição de todas as formas de exploração e opressão dos animais não-humanos. Por isso, recuso terminantemente uma posição reformista, que considero ser eticamente errada e inaceitável. Chamar-me-ia, por isso, abolicionista. No entanto, lamento a maneira irrazoável com que o chamado abolicionismo tem sido defendido, nomeadamente por teóricos como Gary Francione. Se as posições que este defende fossem aplicadas exatamente como ele as propõe, estaríamos a prestar um mau serviço aos animais, na minha opinião. As críticas dele às campanhas “single issue” (por exemplo, a uma campanha que aborde apenas os circos com animais ou as touradas ou a experimentação animal) são absurdas. Desde quando é que defender, numa campanha específica, o fim das touradas ou da experimentação animal é admitir que tudo o resto que essa campanha não aborda é aceitável ou menos importante? Na verdade, as campanhas “single issue” são muito úteis para centralizar questões e dar a possibilidade às pessoas de compreenderem os problemas particulares de forma singularizada, sem prejuízo da importância de se articular esses problemas particulares com o problema global, de base, do especismo e das suas implicações. Ao mesmo tempo, e ainda que seja fundamental fazer campanhas e educação a favor do veganismo, não é razoável pensar que isso chega ou que deveríamos apenas dedicar-nos a fazer campanhas acerca do veganismo porque o veganismo abrange tudo. A este propósito, e sem prejuízo da necessidade de promover o veganismo o mais possível, não vejo o que pode haver de errado em conseguir, de imediato, que uma qualquer atividade negativa para os animais possa ser abolida para já, ainda que todas as outras continuem. E não penso que seja perda de tempo apostar tempo e recursos em fazer com que isso aconteça em vez de nos dedicarmos só à defesa do veganismo. São trabalhos complementares que podem e devem ser feitos simultaneamente. Outra crítica que faço a Francione está relacionada com a sua recusa de aceitar qualquer iniciativa em defesa dos animais que seja, ainda que transitória ou instrumentalmente, reformista ou que trate os animais como “coisas”, juridicamente. E explico porquê. Por exemplo, presentemente, em Portugal, os animais são ainda categorizados como “coisas” no Código Civil. A legislação que os protege é extremamente branda e omissa e prevê que qualquer ato de crueldade contra animais, qualquer que ele seja, constitui apenas uma contra-ordenação, ou seja, um delito menor, punível com uma sanção económica (equivalente a uma multa), e não como um crime. Por isso, entendo que, ainda que transitoriamente, e sem prejuízo dos esforços que façamos para mudar a legislação para que seja mais correta e mais justa para os animais (esforços esses que estarão já perto de ser bem sucedidos – o Ministério da Justiça português está a avançar com uma medida nesse sentido e a ANIMAL tem feito o que pode para garantir que essa medida é concretizada), a verdade é que, no imediato, poderemos salvar muitas vidas de animais se não nos limitarmos a tentar prevenir ou punir um ato de crueldade apenas tratando-o enquanto mera contra-ordenação (caso em que a lei considera que, intrinsecamente, esse ato de crueldade é um delito menor), acrescentando-lhe, em vez disso, a dimensão de crime – crime de dano –, uma vez que o animal será de alguém, e portanto será uma coisa de alguém que será danificada (caso em que a lei considera que, extrinsecamente, esse mesmo ato de crueldade é um delito criminal grave), o que, por essa via, poderá permitir salvar a vida a muitos animais e fará uma enorme diferença, no imediato. Não será assim em todos os casos, mas é em muitos. Ainda que essa categoria seja errada, injusta e chocante, se ela permitir salvar uma vida neste momento, deve ser usada. Do meu ponto de vista, não faz sentido atendermos a princípios morais puros de abolicionismo puro, como defende Francione, sem atendermos às suas consequências para os animais. No limite, teremos que analisar questão a questão, caso a caso, devendo sempre lembrar os princípios e afirmá-los, procurando sempre mudar a sociedade e as suas leis para protegerem de forma mais justa e correta os direitos dos animais. Não há qualquer dúvida acerca disso. Mas também devemos fazê-lo não fechando os olhos, no imediato, às consequências das nossas decisões, aos recursos que temos para defender animais e à diferença que isso faz para eles. O ponto é: se esse expediente jurídico for o único que, no momento, me permite salvar a vida a um animal, eu vou usá-lo, ainda que tenha que dizer, em tribunal, que o animal é, juridicamente, uma coisa (acrescentando-lhe, claro, mais elementos argumentativos e fazendo, ainda assim, uma crítica a essa categoria injusta e errada). Se o animal for salvo e ficar bem em resultado disso, isso foi justificado e eu considero que tinha o dever de fazer isso. Tal não impede, porém, que, tanto em tribunal como em qualquer outro contexto, eu continue a apontar e a criticar o mais possível a injustiça e o absurdo de categorizar e tratar os animais como coisas. Mas, se os defendo e se lhes sou leal, não me posso sentar numa poltrona de moralidade completamente desinfectada, escolher não me envolver com questões em que a minha ação pelos animais pode fazer toda a diferença, designadamente usando os recursos jurídicos atualmente disponíveis para tal, e limitar-me a afirmar princípios moralmente puros e a defendê-los apenas na sua forma mais correta, deixando, entretanto, que muitas injustiças sejam cometidas quando podem ser evitadas através destas estratégias e métodos, enquanto se defendem também os direitos dos animais de uma maneira mais abrangente, teórica e moralmente mais correta. Tudo isto serve para dizer que, como o abolicionismo está presentemente muito ligado a Gary Francione e à maneira como ele o apresenta, eu não me considero abolicionista. Sou, no fundo, vegano, ativista e defensor dos direitos dos animais e “no-kill” (só considero aceitável eutanasiar um animal no caso de verdadeira eutanásia, ou seja, em que haja razões éticas e razões clínicas indiscutíveis que, combinadas, o justifiquem, pelo que me oponho terminantemente a políticas como a defendida e executada pela PETA e outras, que matam e advogam a morte de animais por alegadamente não haver lar para eles). É este, de resto, o posicionamento da ANIMAL.
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Pare de consumir óleo de palma!

 

 

Fonte: Center for the Great Apes
 
Center For Great Apes E-news, 23/09/2009
 
Por Patti Ragan, Center for Great Apes (Flórida, EUA)
 
No início de mês, estive presente no Workshop anual de orangotangos no zoológico de Atlanta. Idéias maravilhosas surgem nestes workshops, onde tratadores, protetores, supervisores, curadores e veterinários se reúnem para discutir as melhores formas de manejo e cuidado para orangotangos em cativeiro em zoológicos e santuários. Questões de saúde, dieta e nutrição, enriquecimento e espaço para comportamento natural são tópicos discutidos por vários dias. Todos saem da reunião com mais idéias para tornar a vida dos orangotangos sob sua responsabilidade melhor.
 
Enquanto trabalhamos duro no Centro para os Grandes Primatas para oferecer o melhor cuidado possível para orangotangos e chimpanzés que vieram para a gente da indústria de entretenimento, domesticação inadequada, zoológicos de estrada... não podemos ignorar a crise enfrentada pelos orangotangos em Borneo e Sumatra. Destruição gratuita de habitats e áreas naturais e desmatamento para mais extração de madeira e produção insustentável de óleo de palma resultaram na morte de 6 mil orangotangos só no último ano!
 
O que podemos fazer em nosso dia-a-dia para enfrentar essa situação catastrófica LEIA RÓTULOS quando for fazer compras, e não compre nada com óleo de palma... ou pelo menos fique atento aos ingredientes e corte drasticamente o consumo de óleo de palma Pessoas na Austrália, Nova Zelândia e Inglaterra que se opuseram a fabricantes devido ao uso de óleo de palma em sabonetes e artigos alimentícios fizeram uma diferença no jeito que algumas indústrias passaram a produzir seus produtos. Kentucky Fried Chicken (na Austrália) parou de usar óleo de palma na sua comida e mudou para óleo de canola.
 
Óleo de palma é a grande ameaça para a sobrevivência dos orangotangos. Por favor, fique atento e pare de comprar produtos que contenham o óleo. No final das contas, se os consumidores pararem de comprar esses produtos, NÓS podemos fazer a diferença na vida selvagem (incluindo orangotangos) que depende da floresta para sua alimentação e sobrevivência.

 

11 Nov, 2009

ABDICAR DE MATAR

Noticia
(Por Luís Portela. In “Jornal de Notícias”, 4 de Novembro de 2009)
 
Assassino é, segundo os dicionários, quem mata ou manda matar com intenção. O termo está relacionado com a ideia de morte provocada com violência, mais ou menos premeditada e/ou de forma traiçoeira.
 
Poderá colocar-se a questão se os perto de 300.000 portugueses que, às quintas-feiras e domingos, entre Agosto e Fevereiro, matam animais a tiro pelos campos deste país, normalmente conhecidos por caçadores, podem ou devem ser chamados de assassinos.
 
Matam com intenção, de forma premeditada, com violência, traiçoeiramente, seres indefesos e que nada terão feito para merecerem o sofrimento a que muitas vezes são sujeitos pela sensação de perseguição, pelo susto, a dor e a agonia provocados pelos tiros dos caçadores ou pelas dentadas dos seus cães. Seres pacíficos, belos, úteis, com direito à vida, que nada terão feito para merecerem a morte.
 
Não matam em defesa própria, nem por necessidade. Matam por prazer ou… por desporto. Não matam corajosamente, olhos nos olhos, quem tem meios de defesa e poder de contra-ataque. Matam seres inocentes, sem qualquer capacidade de defesa. E fazem-no por prazer ou… por desporto.
 
Mas os dicionários referem a palavra assassino relacionada com a morte de pessoas. Não costuma ser utilizada para quem comete o mesmo acto em outros animais, pelo que a sua utilização - pelo menos para já - é inadequada.
 
E digo "pelo menos para já" porque penso que, mais cedo ou mais tarde, a humanidade irá reprovar fortemente quem não respeite as mais diversas formas de vida. Não sei se os caçadores algum dia vão ser chamados de assassinos. Mas tenho a convicção de que a caça virá a ser reprovada por um cada vez maior número de pessoas e, eventualmente, proibida.
 
Entretanto, muito gostaria que as pessoas que criaram o gosto pela caça meditassem um pouco no que realmente fazem e se - face às leis universais - podem ou devem fazê-lo. Mais bonito que a proibição da caça, seria que cada um dos caçadores abdicasse do seu prazer ou… do seu desporto.
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Imagem retirada da internet

 Todas as manhãs de todos os dias úteis, exceptuando aqueles em que tenho mesmo de ir ao hospital, eu venho trabalhar para o Centro de Juventude de Oeiras. Não é um trabalho remunerado, mas é um trabalho, isto que por cá vou deixando, sobretudo no http://poetaporkedeusker.blogs.sapo.pt/. Claro está que ninguém me vai despedir se eu não quiser aparecer, mas isso, em vez de me afastar da ideia de "trabalho", torna-ma mais abrangente e, de certa forma, um pouco mais meritória.

Ao longo de todas estas manhãs, eu fui criando laços com pessoas e não só. Uma das minhas grandes amigas de todas essas manhãs pode ser vista na foto e é uma árvore. Em torno dela, amarrado ao tronco, está um papel impresso que explica que a árvore está a ser submetida a poda e limpeza... espero - espero do fundo do coração! - que ela possa voltar a desabrochar no início da próxima Primavera e que ninguém se lembre de derrubar o dela resta depois desta manhã...

Se alguém quiser comentar este post será muito bem-vindo. Porque existem amigos nossos que não podem protestar ou erguer a voz quando são injustamente condenados...

 

 10h00m

 

Agora já não voltará a desabrochar na próxima Primavera. Não me pareceu que esta árvore estivesse a pôr em perigo fosse o que fosse, mas mesmo que os ramos e folhas estivessem a crescer de forma exuberante, não bastaria uma pequena poda nos ramos mais desenvolvidos? Seria mesmo necessário reduzi-la a coisa nenhuma?

Era uma árvore muito bela que, de alguma forma, completava a paisagem deste pedacinho do chão de Nova Oeiras, quase em frente à Igreja de Sto. António de Nova Oeiras e ao Centro de Juventude. Oeiras tem menos uma árvore, neste momento. Uma árvore que abrigava dezenas de lugres e melros e que ocupara um lugarzinho no coração de uma das munícipes do bairro. Será que sou eu a única pessoa que, nos dias que vão correndo, se preocupa com estas coisas?

 

 14h 00m