Face à contestação, por que não sai o Japão da CBI? Porque isso o tornaria num pirata dos mares, respondem os especialistas contactados pelo PÚBLICO durante o encontro na FLAD. Mas a insistência de caçar ao abrigo de uma cláusula que todos sabem não passar de um escudo tem minado as relações na Comissão.
Os países mais não fazem do que contar espingardas. Entram na CBI membros que nada têm a ver com a caça às baleias só para alinhar com as posições opostas. Há países cujo voto foi comprado pelos japoneses, como admitiu o representante de uma destas nações na reunião da Pew em Lisboa.
Para tentar tirar a CBI deste coma, o relatório de Soto propõe algumas moedas de troca para dar aos japoneses uma saída airosa desta encruzilhada.
Assim, seria permitido ao Japão fazer caça costeira e propõe-se que seja dado um prazo de cinco anos, ao fim dos quais os baleeiros nipónicos se retirariam do oceano Antárctico. Esta última proposta tem várias opções, desde a retirada total até ao estabelecimento de uma quota "sustentável" de abate de baleias. Algo que os comissários terão de decidir na Madeira.
Mas a permissão de caça costeira encerra alguns perigos, como a abertura de um precedente que poderia ser seguido por outros países. "O que interessa é conseguir encontrar uma solução que faça com que a CBI volte a funcionar. Tornando-se uma instituição funcional - coisa que não é agora -, poderá assumir melhor as suas funções e regular melhor as actividades, com base em conhecimento científico", responde Peter Bridgewater, presidente da reunião da Pew.
Em contrapartida, os países defensores das baleias conseguiriam atingir um objectivo que perseguem há anos, sempre bloqueado pelos japoneses e seus apoiantes: criar um santuário para as espécies que passam pelo Atlântico Sul.
Os países baleeiros anunciam quantas baleias caçam por ano. Mas o número de mortes é muito superior e a discrepância não vem apenas de abates ilegais. O problema chama-se bycatch, isto é, a apanha involuntária de espécies nas artes de pesca. Segundo os especialistas reunidos em Lisboa, os números de cetáceos mortos por esta via tem vindo a aumentar. Na Coreia, entram o dobro de baleias no mercado do que é declarado . Desde que entraram em vigor novos regulamentos para verificar o bycatch, provou-se que é pelo menos quatro vezes superior ao declarado. Este é um dos problemas a que a Comissão das Baleias da Pew considera que a CBI tem de dar mais atenção. Assim como à elevada mortandade que os grandes navios que cruzam os oceanos causam nestes seres. Mas, para tal, o organismo tem de ter poder para actuar, algo que lhe falta neste momento.
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